“Senhor, Senhor! Não foi em teu nome que profetizámos, em teu nome que expulsámos os demónios em teu nome que fizemos muitos milagres?” (de Mt 7,21-17)

A resposta é: “Não vos conheci”. Escusava de ser tão ingrato. Mas é que pode tudo ter sido feito no nome do Senhor sem ter sido feito na “vontade” do “Pai que está no Céu”. É um sério aviso para todos os que têm títulos, fazem parte de denominações e confissões, andam com o credo na boca ou coleccionam sacramentos.
Noutro ponto, Jesus diz que pelos frutos se vê a árvore, o que quer dizer que, para mais em tempo de engenharia genética, de OGM, e de viveiros especializados em criar árvores pequenas que dêem grandes frutos, o que interessa mesmo é o fruto. Ninguém pergunta à repositora da frutaria pelo tamanho da macieira quando compra um quilo de maçãs.
Com o bem, é a mesma coisa. Interessa mais o bem bem feito (não há nenhuma palavra a mais) do que o título de quem o faz. Por isso é que há mais cristãos do que os que foram baptizados. Por isso é que há muitas moradas no reino dos céus.
E como não ser apanhado em falso quando se diz “Senhor, Senhor”, já que religião é dependência e todos desejamos genuinamente ser dependentes do Senhor realmente Senhor?
Aqui, a reposta já não está nos frutos, que se vêem, mas nas raízes, que não se vêem. Nos alicerces da casa. A casa que não cai é a que está fundada sobre a rocha. Isso é que é construir com qualidade e garantia contra os lobos maus. Essa é a guerra preventiva no interior de nós próprios que temos de levar a cabo.

A crise que nós, cristãos, estamos a viver tem raízes sociológicas e culturais muito concretas, mas obriga-nos a rever os alicerces e a observar sobre que bases estamos a construir a nossa vida cristã.Talvez não tenhamos enraizado o nosso cristianismo sobre o alicerce sólido do evangelho, mas sobre costumes, modas e tradições, nem sempre muito de acordo com a verdade do evangelho.Quisemos apoiar a nossa religião na segurança das nossas fórmulas e no rigor da disciplina, mas talvez não nos tenhamos preocupado demasiado em procurar a verdade do evangelho.Vivemos muitas vezes demasiado atentos aos códigos, rubricas, normas e prescrições, e não aprendemos a confrontar a nossa própria responsabilidade e os riscos da liberdade cristã.
José Antonio Pagola, pág. 77 de “O caminho aberto por Jesus”